Pandemia não impediu criação de novos espaços na capital, que continua a atrair investidores e colecionadores.
Mesmo em ano pandémico, três estrangeiros abriram galerias de arte no coração de Lisboa: um espanhol, que sonha com a democratização da arte; uma japonesa, que queria um mercado estratégico na Europa; e um francês, apaixonado pelo artesanal, que quer mostrar trabalho em tempo real.
Juan Muñoz Carmona, filho de um espanhol e de uma brasileira, alimentava, há muito, o desejo de abrir um espaço cultural em Lisboa. Com a equipa da The studio – empresa de design que tem com André Ribeiro – estava a trabalhar no espaço do Bairro Alto Hotel e ali se formou a hipótese perfeita para a Muñoz Carmona Art & Gallery, um espaço cultural no centro de Lisboa, de acesso democrático. Quando abriram, a 15 de setembro, reparou numa característica diferenciadora dos portugueses: “Os estrangeiros entram na galeria, os portugueses ficam 20 minutos à porta, tiram muitas fotos à montra, mas não entram. Já várias vezes tive de os chamar para entrarem e acontecem coisas curiosas, como perguntarem-me quanto custa entrar. Não custa nada”, conta, entre risos.
O espaço de Muñoz Carmona rompeu com o canône das galerias, que normalmente representam e gerem a carreira de um leque de artistas. Contratou a curadora Deborah Harris – anterior, responsável do The Armory Show, em Nova Iorque – para convidar artistas internacionais contemporâneos que nunca tenham exposto em Portugal. Esta é a marca de água da sua galeria no Chiado.
DE QUIOTO PARA PORTUGAL
>Na Rua de S.Bento, abriu, há duas semanas, a Sokyo Gallery Lisboa. Há muito que a japonesa Atsumi Fujita, diretora da Sokyo, em Quioto, tinha entendido a importância estratégica de ter uma galeria numa capital europeia.
“Após um convite de um colecionador português, decidiu visitar Lisboa, em 2019, gostou imenso, achou uma cidade interessante e cosmopolita, com muita história, reforçada pela interessante relação Portugal-Japão desde o século XVI, e decidiu fazer aqui a galeria”, conta Joana Pessoa. A responsável pela Sokyo Lisboa sublinha ainda a crescente importância da capital no circuito internacional: “Lisboa começa a ser muito procurada por colecionadores de arte”. O espaço não tem nenhum paralelo em Portugal, dado ser especializado em cerâmica japonesa contemporânea.
A tradição artesanal é distintiva da Made in Situ, aberta pelo francês Noé Duchaufour-Lawrance, na Travessa do Rosário. “Aqui os visitantes podem ver o trabalho em tempo real”, explica o artista. “Cada projeto tem de ter um contexto e o público precisa do máximo de elementos e aqui temos condições para lhes dar”, comenta o francês.
Galeria PB27 com curadoria feita por artistas
No Porto, na Rua da Alegria (n.º 918), inaugurou na semana passada a Galeria PB 27, pela mão dos irmãos Mariano. Rita é formada em Pintura e Pedro em História de Arte. Depois de ter esperado dois anos para concretizar a residência artística que ganhou, Rita começou a procurar um ateliê. Encontraram-no numa casa abandonada há mais de 20 anos e decidiram montar um espaço que fosse, simultaneamente, uma galeria e um ateliê de trabalho. A curadoria da galeria será feita por artistas. Rita confessa que a comercialização da arte a choca. “Lá porque um artista não é comercial, não significa que o seu trabalho não seja válido. Se tem de mudar, estamos a tirar-lhe a identidade”, comenta, acrescentando que conhece vários que preferiram manter trabalhos noutras áreas só para não ter de comprometer a sua arte. São estes os artistas que terão lugar na PB 27.
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JN/CamõesTV