Promotores criticam ausência de espetáculos na lista de exceções do Governo e falam em “catástrofe”. Quebra no setor é superior a 80%
É um setor da Cultura em estado de emergência absoluta aquele que está a procurar adaptar-se às restrições de funcionamento anunciadas no final da semana passada pelo Governo. Para cumprir o recolhimento obrigatório em vigor em 121 concelhos, centenas de espaços culturais de norte a sul estão a ajustar os horários, por forma a cumprir as limitações associadas ao recolher obrigatório (das 23 horas às cinco da madrugada nos dias da semana e entre as 13 e as 5 horas aos sábados e domingos).
As estratégias variam de acordo com o género de espetáculo ou evento, mas no essencial consistem em alterar horários ou em adiar a programação prevista. Qualquer que seja a metodologia escolhida, uma certeza parece evidente: os efeitos vão ser devastadores, agravando uma crise de proporções já assinaláveis. Álvaro Covões, diretor-geral da Everything Is New e membro da direção da APEFE (Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos), fala mesmo em “catástrofe”. “Como a Cultura está muito pior do que a restauração, espero que o Governo apresente, em breve, um pacote de medidas, como fez, e bem, para os restaurantes”, defendeu o empresário.
Sandra Faria, da APEFE, reforça as críticas e considera “inexplicável” a ausência dos espetáculos no rol de 13 declarações autorizadas. “É uma decisão que não compreendemos. Se as regras são cumpridas exemplarmente nas salas, como é que os supermercados podem estar abertos e as salas não?”
Quebra de 90% em 2020
Das sessões matinais de cinema à antecipação dos concertos para horários invulgares para a realidade portuguesa e no mundo (entre as 19 e as 20.30 horas), são variadas as escolhas dos programadores para mitigar os efeitos do recolher obrigatório. No Cinema Trindade, no Porto, a opção por agendar sessões a partir das 13 horas permite recuperar uma tradição´já antiga, quando as matinés no mítico Batalha atraíam multidões. “É a única forma de nos mantermos abertos. Não faz sentido uma sala de cinema estar totalmente fechada”, reforçou o empresário Américo Santos, confessando ter “algum entusiasmo” na resposta dos cinéfilos. Já no Canadá as salas de cinema (Cineplex) estão disponíveis, seguindo os protocolos estabelecidos pelos orgãos de saúde local e mundial. Michael Rapino, presidente e CEO da Live Nation Entertainment, indicou durante uma entrevista atravês de uma teleconferência com os acionistas que sua empresa está se preparando para a venda de ingressos para shows “no terceiro e quarto trimestres de 2021 em escala total”. Definitivamente este setor tem enfretado grandes dificuldades.
Apesar dos esforços na manutenção dos eventos, a maioria dos 562 espetáculos agendados para este fim de semana na Ticket Line, o maior operador de venda de bilhetes online, não vai acontecer. Para Álvaro Covões, a quebra no setor deverá atingir no final do ano os 90%: “Há empresas que já não voltarão a abrir as portas, há profissionais a tentar mudar de área, há artistas que já não voltam”.
JN/CamõesTV